Análise da transposição didática das Leis de Kepler no Ensino Médio: um olhar a partir dos constrangimentos didáticos que emergem do saber a ensinar e do saber ensinado

Autores

  • Gabriel Luiz Nalon Macedo Universidade Estadual de Maringá - UEM
  • Luciano Carvalhais Gomes Universidade Estadual de Maringá - UEM
  • Daniel Gardelli Universidade Estadual de Maringá - UEM

DOI:

https://doi.org/10.14244/RELEA/2025.40.39-90

Palavras-chave:

Ensino de Astronomia, Ensino de Física, Leis do movimento planetário

Resumo

O presente estudo investiga como ocorre o processo de transposição didática interna das três leis do movimento planetário de Kepler no Ensino Médio. A pesquisa foi realizada em cinco colégios estaduais do Núcleo Regional de Educação de Maringá, Paraná, Brasil, envolvendo cinco professores de Física. Os dados foram coletados por meio de diários de campo e gravações de áudio das aulas, permitindo uma análise detalhada das falas dos professores. Os resultados revelam que o material didático (Saber a Ensinar) utilizado apresenta inconsistências, simplificações e erros factuais devido à descontextualização, despersonalização, dessincretização e publicidade do saber científico original sem uma adequada vigilância epistemológica. Por exemplo, no que se refere à primeira lei de Kepler, o material apresenta órbitas planetárias com alta excentricidade e afirma incorretamente que as três leis foram apresentadas na obra Astronomia Nova. No que tange ao Saber Ensinado, ou seja, as aulas ministradas pelos professores, a análise crítica revelou que a maioria dos docentes também não realiza a vigilância epistemológica necessária ao transpor o conteúdo, perpetuando os equívocos do Saber a Ensinar e, em alguns casos, agravando-os. Um exemplo disso é a abordagem da lei dos períodos, na qual os professores não mencionam a busca de Kepler pela harmonia dos movimentos planetários baseada na música, ou ainda quando inserem a concepção newtoniana de gravitação de forma mesclada com as ideias de Kepler. Essas evidências sugerem uma falta de vigilância epistemológica mais ativa tanto por parte dos professores quanto dos elaboradores do material didático, ampliando negativamente os impactos dos constrangimentos didáticos durante o processo de transposição. Assim, fica o alerta para a necessidade de uma revisão mais cuidadosa e rigorosa dos materiais didáticos e de uma formação continuada dos professores para garantir que o conhecimento científico seja transposto considerando seu contexto histórico, social, cultural e epistemológico, a fim de assegurar que os saberes escolares sejam menos simplificados e mais conectados às suas origens.

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Biografia do Autor

Gabriel Luiz Nalon Macedo, Universidade Estadual de Maringá - UEM

Atualmente Gabriel Luiz Nalon Macedo é doutorando do curso de Educação para a Ciência e a Matemática da Universidade Estadual de Maringá (UEM) na linha de pesquisa História, Epistemologia e Cultura da Ciência. Faz parte do comitê editorial da Revista Vitruvian Cogitationes - RVC e é Representante Discente do curso de doutorado. É Mestre em Educação para a Ciência e a Matemática pela Universidade Estadual de Maringá (2023) e também Licenciado em Física pela Universidade Estadual de Maringá (2020). Durante o mestrado foi bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES e representante discente do curso de mestrado. No mestrado trabalhou na linha de pesquisa História, Epistemologia e Cultura da Ciência, desenvolvendo uma pesquisa que se utilizou da Teoria da Transposição Didática de Chevallard para estudar o fenômeno da transposição didática do conceito de força gravitacional newtoniana, do Saber Sábio para o Saber a Ensinar. Enquanto que durante a graduação participou como bolsista do programa PIBID - Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência durante 3 anos, desenvolvendo atividades junto ao grupo como, por exemplo, discussões de melhorias no Ensino de Física e elaborações de sequências didáticas, assim como participação e intervenção em sala de aula sob coordenação dos professores envolvidos no projeto. Participou como monitor no Museu Dinâmico Interdisciplinar - MUDI da Universidade Estadual de Maringá, onde ministrava as realizações e as explicações de experimentos no ambiente de Física do museu. Participou também como preceptor no Programa de Integração Estudantil - PROINTE da Universidade Estadual de Maringá, onde auxiliou professores da Universidade na resolução e produção de materiais didáticos das disciplinas de Física Aplicada a Agronomia e Zootecnia, Métodos de Física Teórica I, Física Geral I, Física Geral III e Eletromagnetismo que serviram de suporte para aplicações na área de Física, apresentando e auxiliando os acadêmicos e professores dessas disciplinas no desenvolvimento das atividades didáticas.

Luciano Carvalhais Gomes, Universidade Estadual de Maringá - UEM

Doutor em Educação para a Ciência e a Matemática pela Universidade Estadual de Maringá (2012). Mestre em Educação para a Ciência e o Ensino de Matemática pela Universidade Estadual de Maringá (2008). Graduado em Licenciatura Plena em Física pela Universidade Estadual de Maringá (2005). Mestre em Engenharia de Estruturas pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001) e graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (1998). Atualmente, é professor do Departamento de Física e do Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência e a Matemática (PCM) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), atuando nas seguintes linhas de pesquisa: Ensino e Aprendizagem na Educação Científica; Formação de Professores de Ciências e Matemática; História, Epistemologia e Cultura da Ciência.

Daniel Gardelli, Universidade Estadual de Maringá - UEM

Possui graduação no curso de Licenciatura em Física pela Universidade Estadual de Campinas (1998), mestrado em Ensino de Ciências (Modalidade Física) pela Universidade de São Paulo (2004) e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência e a Matemática da Universidade Estadual de Maringá (2014). Tem experiência na área de História da Física e Ensino de Física em Nível Médio e Superior. Atualmente, é professor do Departamento de Física e do Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência e a Matemática (PCM) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), atuando principalmente nos seguintes temas: História da Ciência, Filosofia da Ciência e Epistemologia da Ciência.

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Publicado

22-11-2025

Como Citar

Macedo, G. L. N., Gomes, L. C., & Gardelli, D. (2025). Análise da transposição didática das Leis de Kepler no Ensino Médio: um olhar a partir dos constrangimentos didáticos que emergem do saber a ensinar e do saber ensinado. Revista Latino-Americana De Educação Em Astronomia, 1(40), 38–89. https://doi.org/10.14244/RELEA/2025.40.39-90

Edição

Seção

Artigos